[PT] Sobre estações

Da onde eu venho, não temos outono. Pelo menos não no sentido poético e artístico, em que as folhas mudam de cor a cada dia até se esparramarem pelo chão, como um tapete barulhento com múltiplas variações da cor laranja.
Não, o que chamamos de outono no Rio de Janeiro é a mudança sutil na coloração de uma folha solitária em cada árvore. É a proximidade da época de chuvas. Do fim da praia por alguns meses. Dá para imaginar então a diferença que faz chegar (e não apenas chegar, morar!) em um país onde cada uma das estações se manifesta exatamente como os livros de geografia ilustram.
E o outono, esta é a estação que estive esperando ansiosamente. Há algo de especial em saber que a natureza se prepara, tal como nós, para o frio que há de vir. Enquanto eu compro casacos, as árvores se desfolham. Deitam suas “plumas” ao chão, cobrem de cor as nossas calçadas e ruas. Enquanto eu busco as vestimentas nas cores mais neutras que possa encontrar, as árvores jogam, uma a uma, gotas de cores das mais variadas. Pra que ficar só no laranja, não é mesmo? Nas minhas andanças pela cidade, já vi e colecionei folhas vermelhas, roxas, amarelas, laranja… Mas sem dúvida, as minhas preferidas são aquelas que se recusam a serem definidas por uma só cor. Por que se limitar quando a natureza permite que as cores se unam, sem se misturar, naquela pequenina tela viva?
São essas quase-pinturas que levo ao meu quarto e exponho ao lado da minha cama. De uma forma meio paradoxal, é um lembrete constante de que eu também tenho que deixar algumas coisas irem. Minha nova estação talvez não esteja tão próxima como o inverno, que sem se atrasar chegará em poucos meses; mas mais hora, menos hora, minha estação chegará. O primeiro exercício de desapego que vou praticar será, adivinhe, com minha coleção ainda pequena de amostras de cores naturais. Logo vai ser hora de deixá-la ir também. Mas não me sinto triste… afinal, em questão de meses o frio chegará, e será momento de me maravilhar com os novos detalhes de uma manifestação da natureza que ainda não presenciei. Porque de onde eu venho, não temos inverno.
Photo by Maira Salazar – that’s me 🙂